terça-feira, 30 de abril de 2013

O Valor do trabalho

Por ocasião do 1º de Maio, dia Internacional do Trabalhador, publicamos a seguir um artigo do Seminarista Carlos Mandlate da Arquidiocese de Maputo, 2º Ano de Filosofia.

Estámos nas vésperas da celebraҫão do primeiro de Maio, dia mundial do trabalhador e neste contexto torna-se pertinente fazer-se uma breve reflexão sobre o Valor e a importância do que estamos para celebrar. Em primeiro lugar é oportuno esclarecer o termo trabalho” em si para evitar as possíveis incompreensões que o mesmo pode suscitar.
Segundo a Enciclopédia Luso brasileira de cultura o termo trabalho provém do latim vulgar tripalium, instrumento de tortura composto por três paus ou varras cruzadas, ao qual se prendia o réu. Por essa razão, o trabalho foi visto por muito tempo como sendo sinal de castigo e em alguns Impérios antigos era somente reservado aos escravos. O trabalho significa em geral qualquer atividade do homem que tem como finalidade um resultado útil. Porém, existem outros significados mais ou menos relacionados com esteː O resultado obtido, o conjunto de pessoas que executam uma actividade laboriosa. Portanto, por extensão analógica também se considera trabalho a actividade útil dos animais, máquinas ou genericamente qualquer força.  Todavia, na presente reflexão o trabalho deve ser entendido como actividade do homem que tem como finalidade um resultado útil.
Após esta breve elucidação do termo trabalho em si, importa dizer que o trabalho reveste-se de um alto valor antropológico já apontado por Aristóteles (384-322ac) ao definir o homem como o filho dos seus actos. Com razão, toda pretensa histórica da evolução do homem está de grosso modo associada ao trabalho. Se recuarmos no tempo ate à Idade da pedra facilmente compreenderemos até que ponto o trabalho emerge na antropologia. O homem dependendo consideravelmente do trabalho da caҫa e da recolecҫão dos frutos silvestres conseguiu desenvolver hábitos semi-carnivoros e a separação do tronco ancestral aumentando o tamanho do seu cérebro e adoptando plenamente a postura erecta com a libertação da mão para o manejo dos instrumentos.
O homem pelo trabalho projecta-se para a eternidade. Embora ele possa desaparecer fisicamente, as suas obras ficam a fazer a manutenção da sua existência; enquanto as suas obras e as suas ideias existirem essa pessoa jamais se apagara da nossa memória, sempre estará presente enquanto durarem as suas obras. A título de exemplo a Noémia de Sousa nunca se apagara enquanto existir o Sangue Negro; ou o escultor que esculpiu a estátua de Mondlane não só tentou imortalizar o arquitecto da unidade nacional, mas também a si mesmo, pois apesar do seu anonimato este escultor existirá enquanto existir a estátua que ele esculpiu pois nela estão cravadas as suas marcas. Nisto é importante salientar que os verdadeiros homens são aqueles que pelo seu trabalho se projectam para a eternidade.
Esta reflexão ficaria incompleta se não tivesse em si a visão teológica do trabalho, tendo em conta que o agente do trabalho foi criado a imagem e semelhança de Deus.
O trabalho tem um imensurável valor teológico. Na visão teológica, o trabalho não é um castigo, mas a colaboração do homem e da mulher na perfeição da criação visível. O trabalho humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus «faҫamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1,26) e Iahweh Deus tomou o Homem e o colocou no jardim para o cultivar e guardar (Gn2,15). O Homem em virtude de ser a imagem de Deus é chamado a prolongar a obra da criação. Portanto, o trabalho é um dever. «Se alguém não quer trabalhar, também não há-de comer» (2Ts3,10). Com razão, quem trabalha colabora na obra do Criador e contribui de certo modo para encher a terra. Ao passo que o comer comporta um subtrair algo da terra. Por isso, Paulo exorta que só tem o direito de subtrair quem contribui para a abundância desses bens. Ademais, o trabalho honra o Criador e os talentos recebidos. “Também pode ser redentor suportando o que o trabalho tem de penoso em união com Jesus o artesão de Nazaré e crucificado no calvário. O Homem colabora de certo modo com o Filho de Deus na sua obra redentora, mostra-se discípulo de Cristo levando a cruz de cada dia na actividade que foi chamado a exercer” CIC 2427.  Neste sentido o trabalho é um meio de santificação do Homem e de animação das realidades terrenas.
Gostaria de terminar esta reflexão, afirmando que o trabalho participa da inalienável dignidade da pessoa humana, ora exaltando-a, ora atrofiando-a. O trabalho estará em paralelo com a dignidade da pessoa humana na medida em que constituir um meio para a realização do próprio homem, «exerce e cumpre uma parte das capacidades da sua natureza e o valor primordial do trabalho pertença ao próprio homem como seu autor e destinatário; e do trabalho tira os meios de subsistência para si e os seus e a possibilidade de servir a comunidade»(CIC 2428)
Mas, o trabalho não é a única atividade do homem. A arte, jogo, a convivência e até o descanso também o são e como tal devem ser julgados e exercidos, caso contrário o trabalho torna-se alienante à dignidade da pessoa humana. África ainda tem na memória o quanto a necessidade pratica do trabalho fez com que o Homem não fosse visto como pessoa em si , mas como um simples instrumento descartável do trabalho e como tal não importava a preservação da sua dignidade, mas sim a produção nas grandes plantações . Em fim para que o trabalho não seja alienante à dignidade da pessoa humana, convém que seja o homem a dar ao trabalho o seu sentido, significado e valor e não o contrário.


Porː Carlos Mandlate, II Ano 2013

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