quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A descoberta da esperança cristã



Mensagem de Bento XVI por ocasião do Congresso Pan Africano dos leigos católicos


CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 10 de setembro de 2012(ZENIT.org) - Apresentamos a mensagem de Bento XVI por ocasião do Congresso Pan Africano dos leigos católicos promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos, em Yaoundé, nos Camarões.


Ao Senhor Cardeal
Stanisław Ryłko 
Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos


Tenho a honra de dirigir o meu cordial pensamento a Vossa Eminência, Venerado Irmão, aos Cardeais, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos consagrados e especialmente a todos os fiéis leigos reunidos em Yaoundé de 4 a 9 de Setembro para o Congresso pan-africano dos leigos católicos, organizado pelo Pontifício Conselho para os Leigos com o apoio da Conferência episcopal dos Camarões, sobre o tema: «Ser testemunhas de Jesus Cristo na África de hoje: sal da terra... luz do mundo (Mt 5, 13.14)». O tema evoca intencionalmente a Exortação apostólica pós-sinodal Africae munus, cujo subtítulo corresponde à mesma citação tirada do Evangelho de são Mateus: «Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo». Ao entregar pessoalmente este importante documento aos Bispo da África em Cotonou, a 20 de Novembro do ano passado, quis oferecer algumas linhas teológicas e pastorais para o caminho da Igreja no Continente.
O vosso Congresso apresenta-se como uma etapa significativa para realizar o que o Espírito Santo inspirou nos Padres sinodais durante a Segunda Assembleia Especial para a África, celebrada em Outubro de 2009 em Roma. Em Cotonou, expressei o desejo a fim de que a Exortação Africae munus possa servir como guia sobretudo no anúncio do Evangelho através do compromisso de todo o Povo de Deus. Por esta razão, com satisfação tomei conhecimento da iniciativa do Pontifício Conselho de convocar um Congresso para os fiéis leigos africanos, chamados especialmente nos nossos dias a desempenhar um trabalho cada vez mais intenso na vinha do Senhor (cf. João Paulo ii, Exortação Apostólica Christifideles laici, 2).
Durante as minhas viagens ao Continente afirmei, em diversas ocasiões, que a África é chamada a ser o «Continente da Esperança». Estas não eram palavras de circunstância, mas indicavam o horizonte luminoso que se abre ao olhar da fé. Certamente, à primeira vista, os problemas da África parecem graves e difíceis de resolver, e não só devido às dificuldades materiais, mas também por causa dos obstáculos espirituais e morais que inclusive a Igreja enfrenta. Além disso, é verdade que mesmos os valores tradicionais mais válidos da cultura africana são, hoje, ameaçados pelo secularismo, que provoca desorientação, lacerações no tecido pessoal e social, exasperação do tribalismo, violência, corrupção na vida pública, humilhação e exploração das mulheres e dos seus filhos, crescimento da miséria e da fome. A tudo isto acrescenta-se também a sombra do terrorismo fundamentalista, que recentemente tem como alvo as comunidades cristãs de alguns países africanos. No entanto, se com um olhar mais profundo, observarmos o coração do povo africano, descobrimos uma grande riqueza de recursos espirituais, preciosos para os nossos tempos. O amor pela vida e pela família, o sentido da alegria e da partilha, o entusiasmo de viver a fé no Senhor, que pude constatar por ocasião das minhas viagens africanas, estão ainda gravados no meu coração. Nunca deixeis que a obscura mentalidade relativista e niilista, que atinge várias regiões do nosso mundo, abra uma brecha na vossa realidade. Acolhei e propagai com força renovada a mensagem de júbilo e de esperança que Cristo traz, mensagem capaz de purificar e fortalecer os grandes valores das vossas culturas. Por isso, na Encíclica Spe salvi, quis apresentar a santa sudanesa Josefina Bakhita como testemunha de esperança (cf. n. 3), a fim de demonstrar que o encontro com o Deus de Jesus Cristo é capaz de transformar profundamente todos os seres humanos, mesmo nas condições mais pobres — Bakhita era uma escrava — para lhes oferecer a dignidade suprema de filhos de Deus. Justamente, «mediante o conhecimento desta esperança, ela estava “redimida”, já não se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus» (ibidem). E a descoberta da esperança cristã suscitou nela um desejo novo e irreprimível: «A libertação recebida através do encontro com o Deus de Jesus Cristo, sentia que devia estendê-la, tinha de ser dada também a outros, ao maior número possível de pessoas. A esperança, que nascera para ela e a “redimira”, não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos» (ibidem). O encontro com Cristo confere o impulso para superar inclusive as dificuldades aparentemente mais insuperáveis. Esta é a experiência de santa Bakhita, mas é também a experiência que numerosos jovens africanos — graças a Deus, a grande maioria da população — são chamados a viver hoje no seguimento fiel do Senhor. Tornar a África «Continente da Esperança» é um compromisso que actualmente deve orientar a missão dos fiéis leigos africanos, bem como o próprio Congresso que estais a celebrar.
Nesta perspectiva, a vossa Assembleia constitui um momento significativo na preparação de dois eventos eclesiais, já iminentes, de importância universal: o Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização e o «Ano da fé». Em Cotonou, ao entregar a Exortação Africae munus, recordei que «todos aqueles que receberam o dom maravilhoso da fé, este dom do encontro com o Senhor ressuscitado, sentem também a necessidade de o anunciar aos demais» (Homilia na Santa Missa no «Stade de l’amitié», Cotonou-Benim, 20 de Novembro de 2011). Com efeito, a missão nasce da fé, dom de Deus a acolher, nutrir e aprofundar, pois «não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida» (Motu Proprio Porta fìdei, 3). Obviamente, a prioridade da fé tem um sentido mais lógico do que cronológico. De facto, a aceitação deste dom divino anda de mão dadas com o impulso do Evangelho, numa espécie de «círculo virtuoso», onde a fé cresce no anúncio e o anúncio reforça a fé: «com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria» (ibid., n. 7). Realmente, «é dando a fé que ela se fortalece!», são as palavras inesquecíveis do beato João Paulo II (Carta Encíclica Redemptoris Missio, 2).
Enfim, gostaria de recordar algumas palavras do Servo de Deus Paulo VI, intérprete fiel do Concílio: «Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade» (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, 18). Nesta obra de transformação de toda a sociedade, hoje tão urgente para a África, os fiéis leigos têm um papel insubstituível: «A Igreja torna-se presente e activa na vida do mundo através dos seus membros leigos. Estes têm uma grande função a desempenhar na Igreja e na sociedade... De facto, os fiéis leigos são “embaixadores de Cristo” (2 Cor 5, 20) no espaço público, no coração do mundo» (Exortação Apostólica pós-sinodal Africae munus, 128). Homens e mulheres, jovens, idosos e crianças, famílias e toda a sociedade, a África inteira espera hoje os «embaixadores» da Boa Nova, fiéis leigos provenientes das paróquias, das Comunidades Eclesiais de Base, dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, apaixonados por Cristo e pela Igreja, repletos de alegria e agradecidos pelo baptismo que receberam, promotores corajosos de paz e anunciadores de uma esperança autêntica.
Confiando o Congresso à intercessão amável e maternal da Bem-Aventurada Virgem Maria que, como recita a oração do vosso Congresso, é «Nossa Senhora da África, Rainha da Paz e Estrela da Nova Evangelização», concedo de bom grado a todos os participantes a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 20 de Agosto de 2012.
BENEDICTUS PP XVI

domingo, 9 de setembro de 2012

Novo Missal e 2 novos cálices

O nosso Seminário conta desde dia 04 de Setembro com dois cálices novos, duas patenas e 1 Missal Romano. 
Trata-se de uma oferta dos nossos benfeitores. No Sábado, 08 de Setembro de 2012, Festa da Natividade de Nossa Senhora, procedeu-se a bênção dos novos vasos sagrados e do Missal.
A cerimónia foi presidida pelo Pe Joaquim Lopes, encarregado pela Liturgia no Seminário...
Aos nossos benfeitores, queiram nestas linhas, receber a nossa sincera gratidão




Pe Tonito com o livro das bênçãos,
 Pe Joaquim celebrante e Pe Manuel


Aspersão com água benta


terça-feira, 4 de setembro de 2012

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2012


«Chamados a fazer brilhar a Palavra da verdade» (Carta ap. Porta fidei, 6)

Queridos irmãos e irmãs!
Neste ano, a celebração do Dia Mundial das Missões reveste-se dum significado muito particular. A ocorrência do cinquentenário do inicío do Concílio Vaticano II, a abertura do Ano da Fé e o Sínodo dos Bispos cujo tema é a nova evangelização concorrem para reafirmar a vontade da Igreja se empenhar, com maior coragem e ardor, na missio ad gentes, para que o Evangelho chegue até aos últimos confins da terra.
Com a participação dos Bispos católicos vindos de todos os cantos da terra, o Concílio Ecuménico Vaticano II constituiu um sinal luminoso da universalidade da Igreja pelo número tão elevado de Padres conciliares que nele se congregou, pela primeira vez, provenientes da Ásia, da África, da América Latina e da Oceânia. Tratava-se de Bispos missionários e Bispos autóctones, Pastores de comunidades disseminadas entre populações não-cristãs, que trouxeram para a Assembleia conciliar a imagem duma Igreja presente em todos os continentes e se fizeram intérpretes das complexas realidades do então chamado «Terceiro Mundo». Enriquecidos com a experiência própria de Pastores de Igrejas jovens e em vias de formação, apaixonados pela difusão do Reino de Deus, eles contribuíram de maneira relevante para se reafirmar a necessidade e a urgência da evangelização ad gentes e, consequentemente, colocar no centro da eclesiologia a natureza missionária da Igreja.
Eclesiologia missionária
Hoje uma tal visão não esmoreceu; antes, tem conhecido uma fecunda reflexão teológica e pastoral e, ao mesmo tempo, repropõe-se com renovada urgência, porque aumentou o número daqueles que ainda não conhecem Cristo. «Os homens, à espera de Cristo, constituem ainda um número imenso», afirmava o Beato João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio sobre a validade permanente do mandato missionário; e acrescentava: «Não podemos ficar tranquilos, ao pensar nos milhões de irmãos e irmãs nossas, também eles redimidos pelo sangue de Cristo, que ignoram ainda o amor de Deus» (n. 86). Por minha vez, ao proclamar o Ano da Fé, escrevi que Cristo «hoje, como outrora, envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra» (Carta ap. Porta fidei, 7). E esta proclamação – como referia o Servo de Deus Paulo VI, na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi – «não é para a Igreja uma contribuição facultativa: é um dever que lhe incumbe, por mandato do Senhor Jesus, a fim de que os homens possam acreditar e ser salvos. Sim, esta mensagem é necessária; ela é única e não poderia ser substituída» (n. 5). Por conseguinte, temos necessidade de reaver o mesmo ímpeto apostólico das primeiras comunidades cristãs, que, apesar de pequenas e indefesas, foram capazes, com o anúncio e o testemunho, de difundir o Evangelho por todo o mundo conhecido de então.
Por isso não surpreende que tanto o Concílio Vaticano II como o Magistério sucessivo da Igreja insistam, de modo especial, sobre o mandato missionário que Cristo confiou aos seus discípulos e que deve ser empenho de todo o Povo de Deus: Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e leigos. O cuidado de anunciar o Evangelho em toda a terra compete, primariamente, aos Bispos enquanto responsáveis directos da evangelização no mundo, quer como membros do Colégio Episcopal, quer como Pastores das Igrejas particulares. Efectivamente, eles «foram consagrados não apenas para uma diocese, mas para a salvação de todo o mundo» (João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio, 63), sendo o Bispo «um pregador da fé, que conduz a Cristo novos discípulos» (Ad gentes, 20) e «torna presentes e como que palpáveis o espírito e o ardor missionário do Povo de Deus, de maneira que toda a diocese se torna missionária» (Ibid., 38).
A prioridade da evangelização
Assim, para um Pastor, o mandato de pregar o Evangelho não se esgota com a solicitude pela porção do Povo de Deus confiada aos seus cuidados pastorais, nem com o envio de qualquer sacerdote, leigo ou leiga fidei donum. O referido mandato deve envolver toda a actividade da Igreja particular, todos os seus sectores, em suma, todo o seu ser e operar: indicou-o claramente o Concílio Vaticano II, e o Magistério sucessivo reiterou-o com vigor. Isto exige que estilos de vida, planos pastorais e organização diocesana se adeqúem, constantemente, a esta dimensão fundamental de ser Igreja, sobretudo num mundo como o nosso em contínua transformação. E o mesmo vale para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e também para os Movimentos eclesiais: todos os elementos que compõem o grande mosaico da Igreja devem sentir-se fortemente interpelados pelo mandato de pregar o Evangelho para que Cristo seja anunciado em toda a parte. Nós, Pastores, com os religiosos, as religiosas e todos os fiéis em Cristo, devemos seguir as pegadas do apóstolo Paulo, o qual, «prisioneiro de Cristo pelos gentios» (Ef 3, 1), trabalhou, sofreu e lutou para fazer chegar o Evangelho ao meio dos gentios (cf. Col 1, 24-29), sem poupar energias, tempo e meios para dar a conhecer a Mensagem de Cristo.
Também hoje a missão ad gentes deve ser o horizonte constante e o paradigma de toda a actividade eclesial, porque a própria identidade da Igreja é constituída pela fé no Mistério de Deus, que se revelou em Cristo para nos dar a salvação, e pela missão de O testemunhar e anunciar ao mundo até ao seu regresso. Como São Paulo, devemos ser solícitos pelos que estão longe, por quantos ainda não conhecem Cristo nem experimentaram a paternidade de Deus, conscientes de que «a cooperação se alarga hoje para novas formas, não só no âmbito da ajuda económica mas também no da participação directa» na evangelização (João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio, 82). A celebração do Ano da Fé e do Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização serão ocasiões propícias para um relançamento da cooperação missionária, sobretudo nesta segunda dimensão.
Fé e anúncio
O anseio de anunciar Cristo impele-nos também a ler a história para nela vislumbrarmos os problemas, aspirações e esperanças da humanidade que Cristo deve sanar, purificar e colmatar com a sua presença. De facto, a sua Mensagem é sempre actual, penetra no próprio coração da história e é capaz de dar resposta às inquietações mais profundas de cada homem. Por isso a Igreja, em todos os seus componentes, deve estar ciente de que «os horizontes imensos da missão eclesial e a complexidade da situação presente requerem hoje modalidades renovadas para se poder comunicar eficazmente a Palavra de Deus» (Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 97). Isto exige, antes de mais, uma renovada adesão de fé pessoal e comunitária ao Evangelho de Jesus Cristo, «num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver» (Carta ap. Porta fidei, 8).
Com efeito, um dos obstáculos ao ímpeto da evangelização é a crise de fé, patente não apenas no mundo ocidental mas também em grande parte da humanidade, que no entanto tem fome e sede de Deus e deve ser convidada e guiada para o pão da vida e a água viva, como a Samaritana que vai ao poço de Jacob e fala com Cristo. Como narra o Evangelista João, o caso desta mulher é particularmente significativo (cf. Jo 4, 1-30): encontra Jesus, que começa por lhe pedir de beber mas depois fala-lhe duma água nova, capaz de apagar a sede para sempre. Inicialmente a mulher não entende, detém-se ao nível material, mas lentamente é guiada pelo Senhor fazendo um caminho de fé que a leva a reconhecê-Lo como o Messias. E a este propósito afirma Santo Agostinho: «Depois de ter acolhido no coração Cristo Senhor, que mais poderia fazer [aquela mulher] senão deixar ali o cântaro e correr a anunciar a boa nova?» (In Ioannis Ev.,15, 30). O encontro com Cristo como Pessoa viva que sacia a sede do coração só pode levar ao desejo de partilhar com os outros a alegria desta presença e de a dar a conhecer para que todos a possam experimentar. É preciso reavivar o entusiasmo da comunicação da fé, para se promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão a perder a referência a Deus, e deste modo voltarem a descobrir a alegria de crer. A preocupação de evangelizar não deve jamais ficar à margem da actividade eclesial e da vida pessoal do cristão, mas há-de caracterizá-la intensamente, cientes de sermos destinatários e ao mesmo tempo missionários do Evangelho. O ponto central do anúncio permanece sempre o mesmo: o Kerigma de Cristo morto e ressuscitado pela salvação do mundo, o Kerigma do amor absoluto e total de Deus por cada homem e cada mulher, cujo ponto culminante se situa no envio do Filho eterno e unigénito, o Senhor Jesus, que não desdenhou assumir a pobreza da nossa natureza humana, amando-a e resgatando-a do pecado e da morte por meio da oferta de Si mesmo na cruz.
A fé em Deus, neste desígnio de amor realizado em Cristo é, antes de mais, um dom e um mistério que se há-de acolher no coração e na vida e pelo qual se deve agradecer sempre ao Senhor. Mas a fé é um dom que nos foi concedido para ser partilhado; é um talento recebido para que dê fruto; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom mais importante que recebemos na nossa vida e que não podemos guardar para nós mesmos.
O anúncio faz-se caridade
«Ai de mim, se eu não evangelizar!»: dizia o apóstolo Paulo (1 Cor 9, 16). Esta frase ressoa, com força, aos ouvidos de cada cristão e de cada comunidade cristã em todos os Continentes. Mesmo nas Igrejas dos territórios de missão, Igrejas em grande parte jovens e frequentemente de recente fundação, já se tornou uma dimensão conatural a missionariedade, apesar de elas mesmas precisarem ainda de missionários. Muitos sacerdotes, religiosos e religiosas, de todas as partes do mundo, numerosos leigos e até mesmo famílias inteiras deixam os seus próprios países, as suas comunidades locais e vão para outras Igrejas testemunhar e anunciar o Nome de Cristo, no qual encontra a salvação a humanidade. Trata-se duma expressão de profunda comunhão, partilha e caridade entre as Igrejas, para que cada homem possa ouvir, pela primeira vez ou de novo, o anúncio que cura e aproximar-se dos Sacramentos, fonte da verdadeira vida.
Associadas com este sinal sublime da fé que se transforma em caridade, estão as Pontifícias Obras Missionárias, instrumento ao serviço da cooperação na missão universal da Igreja no mundo, que recordo e agradeço. Através da sua acção, o anúncio do Evangelho torna-se também intervenção a favor do próximo, justiça para com os mais pobres, possibilidade de instrução nas aldeias mais distantes, assistência médica em lugares remotos, emancipação da miséria, reabilitação de quem vive marginalizado, apoio ao desenvolvimento dos povos, superação das divisões étnicas, respeito pela vida em todas as suas fases.
Queridos irmãos e irmãs, invoco sobre a obra de evangelização ad gentes, e de modo particular sobre os seus obreiros, a efusão do Espírito Santo, para que a Graça de Deus a faça avançar mais decididamente na história do mundo. Apraz-me rezar assim com o Beato John Henry Newman: «Acompanhai, Senhor, os vossos missionários nas terras a evangelizar, colocai as palavras certas nos seus lábios, tornai frutuosa a sua fadiga». Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja e Estrela da Evangelização, acompanhe todos os missionários do Evangelho.
Vaticano, 6 de Janeiro – Solenidade da Epifania do Senhor – de  2012.

BENEDICTUS PP. XVI
 
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