NOTA
PASTORAL DA CONFERÊNCIA
ESPISCOPAL
DE MOÇAMBIQUE
Às Comunidades
Cristãs,
Aos homens e Mulheres de boa vontade,
Às Autoridades civis, religiosas e Político-militares
Saudação
1 - A partir da sede da
Caritas Moçambicana, em Maputo, onde estamos reunidos de 8 a 15 de Abril, para
a nossa Primeira Sessão Ordinária da Assembleia Plenária do presente ano de
2013, vos endereçamos a nossa saudação de Pastores, com votos de que tenhais
celebrado na paz e alegria a Páscoa do Senhor.
Solidariedade para com as vítimas de Muxunguè
2 - Depois dos gravíssimos
acontecimentos dos dias 3 e 4 deste mês, que tiveram lugar em Gondola (Manica)
e Muxunguè (Sofala), a nossa responsabilidade de Bispos nos impele a
dirigir-vos uma palavra de exortação e de esperança.
3 - Antes de mais, queremos
dirigir uma palavra de comunhão e de solidariedade na dor às famílias que
perderam os seus entes queridos nos confrontos armados na Vila de Muxunguè, na
madrugada do dia 4 do corrente mês e das vítimas nas emboscadas na da estrada
nacional Nº 1 que se seguiram às escaramuças daquele dia. Às famílias
enlutadas, aos feridos e respectivas famílias asseguramos as nossas preces.
A génesis dos últimos acontecimentos
4 – Como se pode constatar,
os acontecimentos aqui em referência são uma repetição (em maior escala) de
outros episódios e são fruto da intolerância política que tem caracterizado os
últimos anos, em que o Partido no poder e a Renamo têm sido os protagonistas.
Assim se confirmam as nossas palavras na Nota Pastoral do passado dia 6 de Agosto
de 2012, onde, entre outras, dizemos: “Podemos continuar a perguntar se não
estarão ameaçadas a democracia e a paz, quando temos a impressão de assistirmos
no nosso País a um renhido antagonismo e uma falta de diálogo e de tolerância
entre os dois partidos mais fortes, com a tendência de se denigrirem
reciprocamente, ao ponto de não mais poderem ver nem apreciar os aspectos
positivos que acontecem no seio do outro?” (Nota Pastoral: “Construir
a Democracia para Preservar a Paz,” no 10).
Não à violência e à guerra
5 - Por diversas vezes,
através das nossas Cartas Pastorais, vimos denunciando situações de injustiça,
de exclusão social, de arrogância, intimidação, incitamento à violência verbal
e física, gestos de antagonismo, etc., atitudes e práticas que condenamos
vigorosamente.
Sua Excelência o Senhor Presidente da República, Armando Guebuza e o
líder da Renamo, o Senhor Afonso Dlakama, apregoam a importância e necessidade
da paz; nós voltamos a reafirmar, com todo o vigor, que o diálogo, o respeito mútuo
e a tolerância são a única via para pôr fim às situações como as que temos
testemunhado e que desembocaram nas violências mortais de Muxunguè.
O Povo moçambicano diz NÃO à guerra. NÃO à guerra “grande” como a dos 16
anos; NÃO à guerra “pequena”, de um dia ou de uma hora. Em suma, NÃO à guerra
armada ou verbal, seja quem for o protagonista. NÃO à violência física ou
verbal, venham donde vier. Continuamos a reafirmar, junto com o povo
moçambicano: Ninguém deve atacar, ninguém deve ser atacado; ninguém deve
retaliar, ninguém deve ser retaliado, porque tudo isto é violência. O caminho
justo e correcto é o diálogo franco, honesto e respeitoso.
Apelos:
6 - O remédio para os nossos
males, nesta nossa real situação, é a tolerância, o respeito mútuo, o diálogo
permanente e construtivo.
Por isso, apelamos às forças políticas, particularmente ao Governo, à
Frelimo e à Renamo, na pessoa dos seus dirigentes, para que restabeleçam o
método do diálogo e reafirmem o compromisso que assumiram no Acordo Geral da
Paz, onde está dito que cada um dos signatários não agiria de forma contrária
ao que rezam os diversos Protocolos que puseram fim ao conflito armado no nosso
País (cf. Prot. I, Dos Principios Fundamentais
n.ºs 1 e 2)
Portanto, esta é a estrada por onde devemos SEMPRE caminhar. Não está
dito que depois de 20 anos este compromisso cessaria, compromisso que é, afinal
de contas, norma universal para todos os Povos que desejam viver em paz. Não há
nenhuma reivindicação que possa dar direito ao recurso a qualquer tipo de
violência.
7 - Que se crie, portanto, um
ambiente de paz e liberdade para os indivíduos, para os partidos políticos e
para todos os grupos ou associações que promovem o bem. Que nenhum partido seja
hostilizado nem veja as suas instalações e símbolos destruídos ou vandalizados.
Os governantes e líderes dos partidos devem manifestar que querem a paz através
de gestos concretos, a saber: diálogo transparente, paciente, sincero, aberto,
honesto e permanente. O diálogo é um processo que se deve assumir e construir
com perseverança e paciência.
8 - Perante a erupção de
recursos no nosso País, não faltarão ambiciosos e gananciosos interessados em
aproveitar-se das nossas divisões ou mesmo para provocá-las, para nos distrair
enquanto eles exploram e drenam as riquezas do País. Para que isto não aconteça
não devemos abrir brechas. Os problemas dos moçambicanos devem ser resolvidos
pelos moçambicanos.
9 - Apelamos ao Povo para que não se deixe manipular por ninguém (partidos
inclusive) e induzir para fazer o mal, seja de que tipo for e seja para que
fim, sobretudo para praticar qualquer tipo de violência ou atrocidade.
10 – Apelamos aos sacerdotes:
sejam solícitos em ajudar os fiéis e pessoas de boa vontade a viver a política
na justiça, verdade e respeito recíproco e sejam verdadeiros ministros que
promovem a paz e a reconciliação entre o Povo.
11 - A terminar, saudamos os
governantes, as autoridades civis, religiosas e político-militares, e todos os
homens e mulheres de boa vontade e fazemos votos para a paz, a serenidade e a
alegria voltem para os nossos corações.
Maputo, 15
de Abril de 2013
Os bispos
da Conferencia Episcopal de Moçambique
+ Lúcio Andrice,
Presidente da CEM e Bispo de Xai-Xai
+
Francisco Chimoio, Vice-Presidente da CEM e Arcebispo de Maputo
+João
Carlos Hatoa, Secretário da CEM e Bispo Auxiliar de Maputo
+
Germano Grachane, Vogal da CEM e Bispo de Nacala
+ Claudio
Dalla Zuana, Vogal da CEM e Arcebispo da Beira
+ Adriano
Langa, Vogal da CEM e Bispo de Inhambane
+ Tomé
Makhweliha, Arcebispo de Nampula
+
Francisco João Silota, Bispo de Chimoio
+ Inácio
Saure, Bispo de Tete
+ Hilario
Massingue, Bispo de Quelimane
+
Francisco Lerma Martinez, Bispo de Gurúè
+ Elio
Greselin, Bispo de Lichinga
+ Pe.
Fernando Domingos da Costa, Administrador Apostólico de Pemba
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